Para Inspirar

A religião na manutenção de um trauma

Como praticar sua fé e sua espiritualidade podem ser benéficos no processo de cura e manutenção de um trauma interno

25 de Março de 2022


Encerramos a sétima temporada do Podcast Plenae com um relato pra lá de emocionante: a história de Deborah Telesio, que mergulhava enquanto um dos piores desastres naturais da história do planeta ocorria. Em viagem à Tailândia no fatídico ano de 2004, a administradora viu o tsunami ocorrer mais de perto do que gostaria.


Para além desse acontecimento que, por si só, já possui a força necessária para guiar uma narrativa, Deborah ainda traz as nuances de um mesmo acontecimento e, claro, o seu trauma posterior. Representando o pilar Espírito, ela ganha esse espaço justamente pela presença da religião em seu relato.


Praticante do judaísmo, ela pôde contar com a ajuda de árabes que a auxiliaram em seus momentos mais críticos, oferecendo transporte, roupas e acolhimento. Além disso, ela ainda relata ter tido visões e sensações sobrenaturais durante o ocorrido, e garante que foram elas que salvaram sua vida.


O estresse pós-traumático


Se no relato de Deborah, a religião é presente durante o seu período trágico, para muitas outras pessoas, ela surge depois. Isso porque a religião pode ser uma forte aliada no combate ao Transtorno do Estresse Pós-Traumático, também conhecido como TEPT. E o que é ele, afinal?


“O transtorno do estresse pós-traumático faz parte dos distúrbios de ansiedade e é caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais que acontecem em decorrência do portador ter vivenciado uma situação muito traumática ou violenta, que apresentaram uma ameaça para a vida dele”, explica a psiquiatra Maria Fernanda Caliani, em vídeo para seu canal Neurologia e Psiquiatria.


Esse tipo específico de estresse também pode acontecer caso essa pessoa tenha sido testemunha de uma situação traumática ou violenta, sem necessariamente ter participado ativamente dela. A questão toda é ter sido exposta a algo que ofereceu risco de vida e, apesar de superado, deixou marcas.


“Quando a pessoa se recorda do fato ocorrido, ela revive essa situação como se estivesse acontecendo naquele mesmo momento. Então ele tem a mesma sensação de dor, o mesmo sofrimento. Essa recordação a gente chama de revivescência, e ela desencadeia alterações tanto neurofisiológicas quanto mentais”, continua Maria. 


Mas isso não quer dizer que todas as pessoas que vivenciaram uma situação extrema irão sofrer desse transtorno: acredita-se que de 15 a 20% irão desencadear o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. “Mas a parte triste é: a grande maioria só vai procurar ajuda cerca de 2 anos depois e é aí que está o problema. Porque o que os estudos têm mostrado é que, no caso do transtorno, quanto antes se procurar ajuda profissional e especializada, melhor a recuperação e o prognóstico do paciente a longo prazo”, explica a especialista.


Essas pessoas traumatizadas, que podem pertencer a qualquer faixa etária, podem levar meses ou anos para manifestar esses sintomas. Elas ainda estão divididas em três grupos diferentes a partir de suas sequelas: 


1- Reexperiência traumática: quando a pessoa começa a ter pensamentos recorrentes e intrusivos - ou seja, ela não quer ter aquele pensamento, mas eles invadem a cabeça dela mesmo sem ela querer. “Ela pode acordar no meio da noite assustada, tendo flashbacks ou pesadelos em que ela relembra tudo que viveu”, diz. 


2- Grupo da esquiva e do isolamento social: por medo de relembrar a situação, o indivíduo começa a fugir de situações, contatos ou atividades que possam reavivar as lembranças dolorosas do trauma. “A pessoa deixa de sair, começa a evitar quem estavam junto com ela, deixa de fazer atividades habituais por medo de voltar a sentir tudo que sentiu no dia do trauma”, pontua Maria.


3- Hiperexcitabilidade psíquica e psicomotora: são sintomas autonômicos, ou seja, sintomas físicos decorrentes da descarga de adrenalina. “A pessoa começa a ter taquicardia, começa a suar frio, tonturas, dores de cabeça frequentes, dificuldade para dormir, distúrbios de concentração, começa a ficar mais irritado e hipervigilante”, enumera a psiquiatra.


O diagnóstico só é feito quando os especialistas reconhecem e identificam a existência de um ambiente estressor. Algo como “se não tivesse acontecido aquilo, a pessoa não teria desenvolvido o sintoma”. O tratamento vai envolver o uso de medicações e uma terapia cognitiva-comportamental associada.


Religião X Trauma


Sabemos que o trauma afeta de múltiplas formas o nosso cérebro, e te contamos um pouco mais sobre esse assunto neste artigo. Excesso de estresse, medo, amargura, ansiedade: tudo isso reflete não só no trabalho das pequenas conexões que compõem esse órgão, como despejam uma alta carga de hormônios que estimulam a adrenalina, por exemplo.


Uma pesquisa desenvolvida pela UNIFESP comprovou que pacientes vítimas de estresse pós-traumático apresentam redução de até 10% no córtex pré-frontal (a região responsável pela tomada de decisões, por exemplo) e também do hipocampo, como as crianças. E também sabemos que situações vivenciadas na primeira infância podem reverberar por anos na pessoa.

Sendo assim, os seus sintomas seriam os mesmos que dos pequenos: alteração na memória, concentração e processamento de emoções. Um outro estudo também aponta para uma piora até mesmo do sistema imunológico do indivíduo, além de uma perda de memória recente.

Nessa busca pela cura, a espiritualidade não só pode como deve ser uma das ferramentas utilizadas. Já te contamos aqui no Plenae, inclusive, como a religião pode ser um caminho importante para o autoconhecimento. E quer mais autoconhecimento do que conseguir superar um trauma? 


Isso porque o ato de rezar é também uma forma de meditar, e a meditação é tão potente que pode até mesmo alterar o formato do nosso cérebro, como explicamos neste artigo. Mais do que isso, ela possui benefícios amplamente reconhecidos pela ciência no que diz respeito à saúde mental.


Já se sabe que, quando uma pessoa está em plena atividade espiritual, o seu cérebro ativa a região de recompensa - a mesma área ativada quando estamos apaixonados, quando um sujeito usa droga, escuta música ou até quando recebemos um like nas redes sociais.

Tudo que é ligado ao prazer ativa esse mesmo circuito, que por sua vez, libera uma cadeia de hormônios em nossa corrente sanguínea, todos relacionados ao nosso bem-estar - como a dopamina e a serotonina. Isso tudo pode auxiliar não só no prazer momentâneo, mas na cura a longo prazo de um trauma.

A religião, por fim, além de desencadear processos cerebrais tão importantes ainda te ajuda na busca por um propósito de vida. E encontrar a sua missão seria o “lado bom” do trauma, como explicamos neste artigo. É comum em pesquisas com pacientes que sofreram de estresse pós-traumático se depararem com essa segunda fase, onde eles buscam mais sentido para a vida. 


E a espiritualidade é uma importante aliada nessa busca, afinal, a fé nos proporciona um encontro direto com nossos valores e ideais. Por essas e outras que a religião - seja ela qual for - deve ser um dos seus pilares principais na jornada do equilíbrio, superação e autoconhecimento. 

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Para Inspirar

O segredo para ser um bom pai

Pesquisas estão descobrindo que cuidadores paternos desempenham um papel crucial no comportamento das crianças

8 de Agosto de 2019


Hoje, muitos pais são celebrados por serem sensíveis, carinhosos e participativos. Um corpo crescente de pesquisas está transformando nossa compreensão de como eles podem moldar as vidas de seus filhos desde o início, desafiando as ideias convencionais de paternidade e gênero. Isso é surpreendente, uma vez que até a década de 1970 o papel mais importante dos pais era visto como apoio econômico à mãe, que por sua vez seria a âncora emocional da criança.

"Havia muito foco em como as relações com as mães eram muito importantes, e pouca reflexão sobre outras relações sociais", disse à BBC Michael Lamb, psicólogo da Universidade de Cambridge que estuda paternidade. “O mais óbvio deles foi o relacionamento pai-filho - um relacionamento que era visto como mais importante à medida que as crianças crescem, mas sempre foi visto como secundário para o relacionamento mãe-filho.”

Agora, novas pesquisas estão mostrando que o mundo social das crianças é muito mais rico e complexo do que se pensava anteriormente. Não são apenas os pais que se colocaram no centro das atenções. Avós, pais do mesmo sexo, pais adotivos e solteiros também ajudaram os pesquisadores a entender o que realmente faz uma criança prosperar - e que não se trata apenas de um cuidador.

Uma série de estudos recentes mostra como os papéis parentais flexíveis podem ser. A psicóloga Ruth Feldman, da Universidade Bar-Ilan, de Israel, descobriu que, assim como as mães, os pais experimentam um impulso hormonal quando cuidam de seus bebês, o que ajuda no processo de união. Quando eles são os principais cuidadores, seus cérebros se adaptam à tarefa. E o envolvimento emocional é importante.

Bebês com pais emocionalmente engajados mostram melhor desenvolvimento mental como bebês e são menos propensos a ter problemas comportamentais mais tarde, em comparação com bebês cujos pais se comportam de uma forma mais distanciada. As crianças mais velhas também se beneficiam.

Aquelas cujos pais, ou figuras paternas, são mais emocionalmente favoráveis, tendem a ficar mais satisfeitos com a vida e a ter um melhor relacionamento com professores e outras crianças. "Os fatores que levam à formação de relacionamentos são exatamente os mesmos para a mãe e o pai", diz Lamb. "Isso realmente se resume à disponibilidade emocional, reconhecendo as necessidades da criança, respondendo a elas, proporcionando o conforto e o apoio que a criança precisa".

Envolver os pais desde o início pode trazer muitos benefícios, mostrou a pesquisa. E brincar é particularmente benéfico. "Brincar é a linguagem da infância: é a maneira como as crianças exploram o mundo, é como elas constroem relacionamentos com outras crianças", diz Paul Ramchandani, que estuda em educação, desenvolvimento e aprendizado na Universidade de Cambridge.

Ele e sua equipe observaram os pais brincando com seus bebês nos primeiros meses de vida, depois acompanharam o desenvolvimento das crianças. Eles descobriram que as interações precoces pai-bebê são muito mais importantes do que se supunha anteriormente. Bebês cujos pais eram mais ativos e engajados durante a brincadeira tinham menos dificuldades comportamentais na idade de um em comparação com aqueles com pais mais distantes ou separados.

Eles também fizeram melhor em testes cognitivos em dois, por exemplo, em sua capacidade de reconhecer formas. Esses resultados foram independentes do relacionamento da mãe com a criança. Ramchandani adverte que os resultados não devem ser interpretados como um nexo causal claro.

Em vez de afetar diretamente o desenvolvimento de seus filhos, o comportamento dos pais distantes pode, por exemplo, ser um sinal de outros problemas na família. Ainda assim, ele vê o estudo como um incentivo para brincar com seu filho muito antes de poderem engatinhar e falar. Mas Ramchandani diz que pode ser tão simples quanto sentar o bebê no seu colo, fazer contato visual e observar o que eles gostam.

"O envolvimento é a coisa mais importante, porque você vai melhorar se praticar. Não é algo que vem naturalmente para todos”, diz ele. De muitas maneiras, os pais estão mais envolvidos do que nunca. Há grupos de estudo para pais, aulas de massagem para bebês somente para pais e vídeos on-line sobre paternidade.

"Um dos pontos que aprendemos é que não existe um modelo do pai ideal. Não há uma receita para o que o pai precisa fazer ou que tipo de comportamento ele precisa imitar ”, diz Lamb. Em última análise, diz ele, é sobre estar emocionalmente disponível e atender às necessidades da criança. “Pessoas diferentes fazem isso de maneiras diferentes.

Tem havido muita conversa sobre "os pais precisam fazer isso de maneira masculina?". E a resposta é não, eles não precisam. “Eles precisam fazer isso de uma maneira que faça sentido para eles, que seja autêntico, que lhes permita estar plena e coerentemente engajados no relacionamento com seus filhos.”

Fonte: Sophie Hardach, para BBC
Síntese: Equipe Plenae
Leia o artigo completo aqui.

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