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Exercício deveria ser tratamento contra depressão, diz estudo

Segundo revisão de pesquisas, exercício física melhora os sintomas da doença

7 de Outubro de 2019


Os benefícios do exercício físico no combate à depressão já são conhecidos. Mesmo assim, a atividade ainda não é considerada um componente-chave no tratamento da doença, advertem os pesquisadores Felipe Barreto Schuch e Brendon Stubbs. A dupla acaba de publicar uma revisão de pesquisas científicas sobre o tema no periódico Current Sports Medicine Reports . Schuch e Stubbs, pesquisadores da Universidade de Santa Maria, no Brasil, e do King's College, em Londres, respectivamente, explicam que o exercício deve ser mais seriamente considerado e prescrito nos protocolos de tratamento, da mesma maneira que a psicoterapia e os remédios são. Para apoiar essa recomendação, Schuch e Stubbs realizaram uma revisão abrangente do exercício e da depressão. Aqui está um resumo dos resultados. O exercício pode prevenir a depressão? Muitos estudos mostram que, quanto mais alguém se exercita, menor a probabilidade de ter depressão. Isso é verdade em contextos culturais. O desafio desses estudos é que eles são apenas associativos. Sim, as pessoas podem não experimentar a doença porque se exercitam. Mas também é possível que não se exercitem porque estão deprimidas. Na tentativa de provocar o efeito causal do exercício - isto é, se ele é realmente protetor contra a depressão - Schuch e Stubbs revisaram apenas pesquisas com pessoas sem sinais da enfermidade, acompanhadas por pelo menos um ano. Os pesquisadores puderam então verificar se as pessoas que se exercitaram mais tiveram uma menor incidência de depressão. Para sua revisão, Schuch e Stubbs incluíram 49 estudos que, juntos, acompanharam 267 mil pessoas e incluíram diferentes tipos de exercícios. Eles descobriram que a atividade reduziu as chances de alguém sofrer da moléstia entre 17 e 41% - um efeito substancial que foi observado em diferentes países, idades e sexos. Simplificando: o exercício ajuda a prevenir a enfermidade. Isso não quer dizer que pessoas que praticam atividade física nunca ficarão deprimidas. No entanto, elas certamente correm menos risco de desenvolver um quadro depressivo. O exercício pode tratar a depressão já existente? "O exercício pode melhorar os sintomas depressivos em pessoas com a doença", escrevem Schuch e Stubbs. "No entanto, semelhante a outros tratamentos, ele pode não funcionar igualmente para todos." Dito isto, há evidências convincentes de que o exercício deve ser absolutamente incluído em um kit de ferramentas mais amplo para ajudar as pessoas que estão sofrendo com o diagnóstico. Schuch e Stubbs conduziram uma revisão de 25 estudos que pesquisaram um total de 1.487 pessoas e descobriram que entre 40 e 50% das pessoas com depressão respondem ao exercício. Embora a taxa de abandono do exercício seja de cerca de 18%, ela é de 19% para a terapia e entre 26 e 28% para a medicação. Também é importante observar que esses tratamentos não são exclusivos e podem ser usados ​​em conjunto. Como o exercício previne e trata a depressão? Segundo Schuch e Stubbs, os mecanismos neurobiológicos que sustentam os efeitos antidepressivos do exercício ainda não são claros. No entanto, existem algumas hipóteses. A depressão está associada à inflamação crônica e o exercício regular reduz a inflamação. A doença também está relacionada a níveis mais baixos de um produto químico chamado BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro, na sigla e inglês), que ajuda o cérebro a crescer e se remodelar. O exercício regular aumenta o BDNF, para que ele possa ajudar um cérebro deprimido a superar seus padrões. A atividade física também está associada a mudanças psicológicas positivas. Ela aumenta a confiança e a autodeterminação. Além disso, geralmente ocorre em uma comunidade, algo útil contra a depressão. O benefício do exercício provavelmente está na combinação de todos esses caminhos e provavelmente de outros que ainda nem conhecemos. Fonte: Brad Stulberg, para Outside Síntese: Equipe Plenae Leia o artigo original aqui .

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Como a primeira infância reverbera no adulto?

O que carregamos dentro de nós desde que somos crianças até a nossa maturidade – e como mudar esse panorama

2 de Julho de 2021


No quarto episódio da quinta temporada do Podcast Plenae, nos emocionamos com a história da empreendedora social, Ana Lúcia Villela, que desde muito jovem se viu órfã e diante de episódios que evidenciavam o seu privilégio socioeconômico perante a sociedade.

O que poderia ter passado despercebido para muitos, nela reverberou por anos. Tanto que, quando decidiu escolher sua profissão, ela se guiou justamente nos problemas da infância e na busca por solucioná-los. Assim nasceu o Instituto Alana e todos os seus outros braços sociais, como o Criança e Consumo.

Inspirados por essa história, investigamos como os acontecimentos ocorridos na primeira infância de um sujeito podem ecoar por toda a vida do adulto. Há, é claro, os fatores positivos, mas há diversos negativos também.

Desmistificando conceitos

Para iniciar essa reflexão, é preciso antes de mais nada, cravar: o que é a primeira infância? Segundo o Marco Legal da Primeira Infância , lei federal promulgada no ano de 2016, trata-se do período que se inicia ainda na gestação e se mantém até os seis anos de idade da criança. Há ainda suas subdivisões: a primeira primeiríssima infância, dos 0 aos 3 anos de idade e o restante até os 6 anos.

A chamada “maturação do cérebro” segundo esse artigo , é um movimento que começa ainda intrauterino, ou seja, quando a criança ainda não nasceu. É nesse estágio, até os dois anos de idade, que acontece a produção de mais de 100 bilhões de células nervosas, deixando o órgão vulnerável às influências do ambiente.

“O desenvolvimento do cérebro pode ser afetado por meio dos canais sensoriais tais como som, tato, visão, olfato, comida, pensamentos, drogas, lesões, doenças e outros fatores”, relata o artigo. O estudo ainda revelou que o volume total do cérebro aumenta em 101% ao longo do primeiro ano de vida e mais 15% durante o segundo ano, mas que o estresse pode afetar esse crescimento.

É ainda nessa fase que a criança inicia também o seu desenvolvimento emocional e cognitivo, se percebendo no mundo e também percebendo o outro. Na psicanálise, há um nome para esse período: o Estádio do Espelho, que contamos melhor nesse artigo sobre como é formada a sua autoimagem.

Ainda na primeira infância, mas agora em um período mais avançado (dos 4 aos 6 anos), esse sujeito em formação também começará a desenvolver a sua autonomia. Uma vez que ele conseguiu se enxergar como uma unidade completa - e também ao outro - é hora de entender o mundo que o cerca.

Elementos externos

Para além da neurociência infantil, há também as marcas psicológicas que esse período crava no indivíduo. Para entendermos melhor, conversamos com a psicóloga e mestra em orientação e mediação familiar, Camilla Viana Gonçalves Pereira, que cria conteúdos específicos no tema para sua conta no Instagram .

“O ponto principal é a construção da personalidade que é feita nessa primeira infância. E nessa construção, com certeza vão existir diferentes autores com suas propostas divergentes, mas eu gosto de me embasar muito na questão do apego: quais são as referências de relacionamento que vamos encontrar e que vão reverberar na vida adulta?”, diz.

Essa influência, como explica Camilla, vem toda da relação com os cuidadores - que podem ser terceiros, não necessariamente só pai e mãe. Além do apego, há também a questão da autenticidade. “Crianças foram expostas a negligência, violência, abandono ou até superproteção, tem a sua autenticidade minada. E isso é levado pra vida adulta: esse sujeito certamente terá muita dificuldade de saber quem é ele”, explica.

Todo esse caminho de maus tratos, rejeição, abandono irá se configurar como um trauma, e traumas, como explicamos nesta matéria , são capazes de afetar desde fatores como concentração e elevação de massa branca até mesmo o nosso sistema imunológico. E qual seria o caminho para combatê-lo? Com a terapia, é claro.

“É muito importante que essa pessoa primeiro tenha informações de que aquilo que ela sente, se configura como um trauma. E aí entramos em uma questão de autoconhecimento, de saber quais âmbitos de sua vida essas marcas reverberam”.  É preciso, para isso, praticar e melhorar uma autoescuta e não negligenciar as próprias emoções.

“Essas pessoas normalmente escondem muito as emoções porque nunca foram vistas ou acolhidas, então é muito comum que esse adulto não consiga demonstrar seus sentimentos. Ele observa a si mesmo ou está se rejeitando? Se aceita como ele é? Abraçar suas inseguranças e se valida? Sabe impor limites? Tudo isso é muito importante”, reflete a psicóloga. Por isso a psicoterapia é tão importante nesse processo. Se relacionar e sair com amigos é positivo, mas não é o suficiente.

O outro lado da mesma moeda

Há também o lado positivo da influência da infância, que se dá justamente de maneira oposta dos sintomas mencionados anteriormente. “A gente consegue observar que uma pessoa que veio de um lar acolhedor se torna uma pessoa que valida suas emoções, escolhe relações saudáveis que a nutrem e são recíprocas e amorosas, ela não se anula e não se cerca de pessoas que a anulem”, explica Camilla.

Isso não impede que uma pessoa que nasceu de lares com problemas não desenvolva esses fatores tão positivos: a terapia é justamente pra isso, para que essa criança que se tornou um adulto com traumas também tenha a possibilidade de mudar esses padrões. “Um adulto saudável é aquele que aceita seus erros, se acolhe nessa vulnerabilidade e consegue lidar com isso sem se martirizar, sem se culpar ou se colocar em situações e ciclos de autoviolência”, diz.

É a autocompaixão que irá agregar nessa construção tanto de si, quanto de um lar mais acolhedor, como disse Adriana Drulla em matéria para o Plenae . Filhos que observam seus pais se perdoando e sendo gentis consigo mesmo, tendem a sentir seus erros mais acolhidos e sentem mais espaço para crescer.

É nesse crescimento que ela poderá se deparar, por exemplo, com o seu verdadeiro propósito ainda bem jovem - como aconteceu com Ana Lúcia Villela. É claro que esse processo é individual e que nossos propósitos podem mudar ao longo da vida. Mas da mesma forma que muitos jovens buscam seguir profissões que não verdadeiramente amam apenas para satisfazer seus pais, em caso de lares mais seguros e afetuosos, ele se permite tentar outras possibilidades e enxergar além do que se vê.

“Propósito vem da natureza da admiração. E é possível sim que uma criança de qualquer classe social ou circunstâncias e contextos emocionais, sinta admiração por algo e queira trabalhar com isso. Mas há casos em que essa admiração pode vir justamente para buscar o amor de alguém”, pontua a especialista.

Por isso o amor, a escuta e o olhar se fazem tão necessários nesse período. “Os pais são seres humanos e vão errar em algum momento. Para que isso não se torne um trauma em seus filhos, é preciso que eles tenham espaço para verbalizar seus desconfortos, dar nome às suas emoções, e que esses pais consigam acolher todas essas emoções oferecendo afeto em troca”, conclui.

Esteja atento à sua parentalidade. A perfeição não é almejada - ou sequer é possível. Falhas acontecerão durante a árdua trajetória do educar. O que irá diferenciar é o que fazer com esses erros tão humanos, que habitam em cada um de nós. Você está pronto para tratar a dor com afeto?

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