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Felicidade é amor, ponto final

Estejamos na idade em que estivermos: apenas o amor pode nos tornar reais e mais felizes. Ponto final.

24 de Abril de 2018


Bem-humorado em seus 83 anos de idade, George Vaillant brincou, elogiando os palestrantes jovens que foram capazes de apresentar seus talks de pé e sem auxílio de anotações. O estudioso que passou grande parte de sua vida pesquisando a felicidade apresentou exemplos de seu longo trabalho e falou sobre a surpreendente conclusão a que chegou com ele.

UMA PESQUISA DE 80 ANOS DE IDADE. UM RESULTADO ATEMPORAL

Em 1938, o comerciante norte-americano William T. Grant decidiu financiar um estudo bastante peculiar para a época: ele quis analisar a vida de centenas de pessoas desde a idade adulta até sua velhice. Sua ideia original era essencialmente filantrópica. “Quero ajudar as pessoas oferecendo um conhecimento mais aprofundado sobre como utilizar e aproveitar todas as coisas boas que o mundo tem a lhes oferecer”, dizia ele.

Assim se iniciou a pesquisa mais longa sobre felicidade e os preditores de um envelhecimento saudável, que começou em 1938 e continua sendo feita até hoje. Hoje com quase 80 anos de idade, essa pesquisa virou um enorme projeto que já envolveu o acompanhamento das vidas de 724 pessoas.

Ano após ano, essas pessoas são questionadas sobre sua saúde e suas vidas em casa e no trabalho. Também são coletadas amostras de sangue e os resultados são comparados. Desde o início, uma mensagem muito clara e pouco usual aparece em todos os resultados dessa pesquisa: bons relacionamentos nos mantêm mais felizes e mais saudáveis.

Não é o nível de colesterol, nem a quantidade de exercícios físicos praticados, nem a longevidade dos genes o fator decisivo que destaca os pesquisados que exibem os melhores resultados.


Ao longo dos anos de pesquisa, percebeu-se que não importava se o pesquisado era pobre ou rico, cheio de saúde ou de problemas. O fator decisivo para sua longevidade e felicidade era a profundidade de suas relações, do momento em que ele nascia até o momento em que morria.

Assim, foi percebido o quanto conexões sociais são boas para nós. Pessoas que têm fortes conexões com suas famílias, seus parentes, seus amigos, são mais felizes, fisicamente mais saudáveis e vivem mais que pessoas com conexões sociais mais fracas. Relações mais próximas e menos frias com os pais e mães na infância resultaram em adultos menos ansiosos, mais satisfeitos e com melhores resultados – inclusive na vida profissional.

ADULTOS SAUDÁVEIS SÃO AQUELES COM RELACIONAMENTOS SAUDÁVEIS

George Vaillant foi diretor deste estudo durante muitos anos, trabalhando junto à Universidade de Harvard. Ao longo de sua carreira, ele enveredou pelo tema da psicologia positiva, mapeou o desenvolvimento adulto, a importância de mecanismos involuntários de coping (enfrentamento) e a recuperação de pacientes com alcoolismo.

Com esses anos de bagagem, o pesquisador chegou a descobertas bastante positivas, que vão contra o lugar-comum de que depois dos 30 anos de idade, nós paramos de crescer e nosso corpo começa a envelhecer. Para George, as pessoas continuam se desenvolvendo durante toda a vida, constantemente em busca de novas conexões.

Resumindo bastante os profundos estudos do professor a respeito de nossos mecanismos de coping (a forma como involuntariamente buscamos sobreviver), nosso organismo não busca primeiro nutrientes, vitaminas ou saúde física como forma de sobrevivência. Ele busca, acima de tudo, a companhia de outras pessoas.

Alguns de nós fazemos isso de forma saudável, ativamente procurando essa companhia – outros, criando fantasias e profundos distúrbios psicológicos. Sim, na busca pela conexão, nosso corpo pode ir a extremos. O que aprendemos com Vaillant é que não basta consumirmos todos os nutrientes necessários a cada refeição, se não formos capazes de metabolizar o amor.

Ao final do dia, não são os índices no exame médico que contam: são as pessoas que amamos. É hora de colocar os relacionamentos no topo das prioridades e se preocupar mais com o amor. A boa notícia é que se não tivemos o privilégio de encontrar conexões profundas em nossa infância e juventude, sempre é tempo de buscá-las. Estejamos na idade em que estivermos: apenas o amor pode nos tornar reais e mais felizes. Ponto final.

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A relação entre propósito e trauma

Se o propósito é um desejo, logo, ele mora em nosso cérebro. Mas como esse órgão tão vital fica após um trauma?

13 de Dezembro de 2020


Conhecida por todos desde a infância, a apresentadora Angélica cresceu diante dos olhares da câmera e do público de todo o país. O que poucos sabem é que ela entrou para o mundo da televisão em uma tentativa de sua mãe para que ela se distraísse e superasse um grande trauma: ter visto seu pai ser baleado aos 6 anos de idade.

Essas e outras histórias de superação são narradas por ela no terceiro episódio do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir. Apesar de intensas, todas elas levaram Angélica a ser o que é hoje, uma mulher ainda mais cheia de ideais, com mais autocontrole e autoconhecimento e, sobretudo, em constante busca de sua melhor versão.

Sendo o propósito uma vertente do desejo - seja qual for a sua raiz - portanto, ele habita em nosso cérebro. Mas como esse órgão tão vital fica após sofrer um trauma de ordem emocional, e não física? Há alguma correlação entre ambos e, indo mais afundo, alguma mudança do que queríamos antes e depois de sofrer um trauma?

O cérebro e o trauma

Sabemos que o cérebro é composto por milhares de neurônios que, diariamente, exercem conexões complexas e sensíveis, facilmente afetadas por fatores externos. Excesso de estresse, medo, amargura, ansiedade: tudo isso reflete não só no trabalho dessas pequenas conexões, como despejam uma alta carga de hormônios que estimulam a adrenalina, por exemplo.

Você pode imaginar que isso, a longo prazo, pode trazer malefícios imensos. Mas a curto prazo também. Imagine, por exemplo, o cérebro de uma criança - como foi a Angélica em seu primeiro episódio traumático. Como um dos órgãos mais essenciais de um corpo ainda em formação responderia à exposição de um grande trauma?

Se você respondeu mal, acertou. E isso não é achismo. Uma pesquisa publicada por Bruce D Perry, chefe de psiquiatria no Hospital para Crianças do Texas, revelou por meio de imagens de tomografias computadorizadas que o cérebro de uma criança de 3 anos que sofreu “negligência severa por privação sensorial” acaba sendo expressamente menor do que as de outras de mesma idade.

Além disso, ele apresenta ventrículos aumentados, atrofia cortical e diminuição do hipocampo, que apesar dos nomes científicos assustadores, significam em linhas gerais que essa criança poderá ter funções como a memória, atenção e o processamento de emoções afetados.

Um outro estudo de 2015, analisou crianças residentes em orfanatos na Romênia e não só constatou os mesmos fatos, como também observou que as 26 crianças observadas apresentavam menos massa branca cerebral, responsável por transportar a informação de maneira ágil no nosso cérebro. Elas também apresentavam mais dificuldade no processamento sensorial.

Nos adultos, as consequências também não são das melhores. Uma pesquisa desenvolvida pela UNIFESP comprovou que pacientes expostos a um trauma e depois vítimas de estresse pós-traumático apresentam redução de até 10% no córtex pré-frontal (a região responsável pela tomada de decisões, por exemplo) e também do hipocampo, como as crianças.

Sendo assim, os seus sintomas seriam os mesmos que dos pequenos: alteração na memória, concentração e processamento de emoções. Um outro estudo também aponta para uma piora até mesmo do sistema imunológico do indivíduo, além de uma perda de memória recente.

O lado bom do trauma

As pesquisas são sim sérias e um tanto assustadoras. Mas, como tudo na vida, há duas formas de se olhar um mesmo tema. O codiretor do Centro de Trauma, Resiliência e Crescimento da Universidade de Nottingham, Stephen Joseph, contou em sua coluna de jornal um experimento que conduziu com os sobreviventes do acidente com a balsa Herald Of Free, na Bélgica, que deixou 193 mortos em 1987.

De imediato, ele pôde observar danos psíquicos severos em todos eles, provenientes do estresse pós-traumático. Mas, 3 anos depois, em uma nova avaliação, apesar de alguns ainda apresentarem bastante dificuldade de retomar à realidade, muitos deles - inclusive esses com mais dificuldades - relataram mudanças positivas.

Essas mudanças todas apontavam para uma espécie de mudança de perspectiva em suas vidas. Ao serem questionados se suas visões sobre a vida mudaram depois do desastre de forma positiva ou negativa?" 43% afirmaram ter mudado para melhor, um número considerado alto e bastante otimista.

Para ele, que continuou estudando sobre o assunto e até lançou um livro a respeito da “nova psicologia pós-traumática”, o trauma pode fazer com que a pessoa reflita sobre temas como responsabilidade, compaixão e finitude, e que elas passam a olhar mais a si mesmas e ao seu redor.

Um outro autor, que é também psicólogo e neurocientista brasileiro, chamado Julio Peres, foi ainda mais a fundo nessa questão em seu livro “Trauma e Superação: o que a psicologia, a neurociência e a espiritualidade ensinam”.

Ao longo dos 15 capítulos da obra , ele não só disseca cientificamente os termos dados às doenças que acometem o traumatizado, como também como a personalidade do sujeito, o ambiente em que está inserido, sua resiliência e até a sua espiritualidade podem influenciar na “volta por cima”.

Encarar seus monstros internos é uma forma de moldar seus propósitos e superar

Essa linha de pensamento não ignora os efeitos negativos de um trauma, mas apenas busca olhar sob todos os ângulos. Um estudo feito com mais de 1300 adultos que presenciaram o 11 de setembro corrobora essa tese de que há um lado positivo no trauma.

Isso porque 60% dos entrevistados relataram benefícios principalmente atrelados às suas relações familiares e como elas mudaram para melhor. Há uma urgência latente em amar antes que seja tarde, em não ir dormir com desafetos - como reforça a primeira personagem da terceira temporada do Podcast Plenae, Veruska Boechat - de que o amanhã é agora.

Para Angélica, viver todos seu trauma de infância e os que se sucederam, foram os gatilhos que faltavam para que ela tomasse mais consciência de seu corpo, sua respiração, do milagre da vida e do seu porquê, que a faz levantar todos os dias. O que Stephen busca mostrar é que há engrandecimento por meio da dor, e isso vai muito além do que um exame laboratorial possa mapear. É um movimento interno demorado, custoso e exigente, mas muito valioso.

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