Para Inspirar

"Na modernidade, você vale menos quando envelhece", diz Pondé

Em encontro realizado em São Paulo, filósofo refletiu sobre a contradição entre a longevidade e a desvalorização do velho na sociedade

3 de Outubro de 2019


O advento da longevidade, por si só, já deveria despertar um olhar sobre esse tema com reverência e cuidado, na opinião do filósofo Luiz Felipe Pondé. “Nós, como espécie, não estamos acostumados a envelhecer. Há mil anos, uma menina menstruava e já era o que a gente chama de adulta. Hoje a idade adulta chega lá pelos 35 anos”, afirmou ele no primeiro dos quatro encontros denominados Uma reflexão sobre o envelhecimento , realizado na plataforma de conhecimento M.inq , em São Paulo, em setembro. Confira alguns destaques de sua palestra. Conflito entre corpo jovem e velho Um dos temas mais contraditórios do envelhecimento é: na medida em que a gente vive mais, mais o envelhecimento é recusado como objeto psicológico, cultural e histórico. Se esse objeto é de recusa e negação, cria-se no seio da experiência humana contemporânea uma contradição quase insuperável, que chamo de o conflito entre a juventude e o envelhecimento do corpo. De um lado, você vai envelhecer. Do outro, tudo o que você não quer é envelhecer. Percebe a contradição? A modernidade nos leva a viver mais, por causa da medicina, mas ela mesma desvaloriza a longevidade. Isso é fato concreto. O idoso vai paulatinamente virando alguém que está ali, mas na verdade não está. O mecanismo de produção do mundo na experiência moderna pressupõe que você vale menos quando envelhece. Sei que tem um monte de marketing por aí que fala o contrário, mas é mentira. Você vale menos. Um dos argumentos possíveis para a diminuição do valor dos idosos é porque agora eles são maioria. Antes, era raro chegar aos 40 anos. Hoje, qualquer pessoa minimamente razoável consegue sobreviver. Medo de envelhecer A única forma de enfrentar o envelhecimento é através do amadurecimento. Parece óbvio, mas esse não é o tipo de investimento que a gente faz no sentido cultural. O que a gente tem feito é transformar a vida em uma espécie de evento em que você é eternamente jovem dentro dele. Não acho que a gente faça isso porque é um bando de idiotas, mas porque tem medo. O amadurecimento implica a assimilação dos aspectos sombrios do envelhecimento, como doença, morte e perda de pessoas. No entanto, vivemos em uma época em que a tendência a eliminar a integração dos aspectos sombrios é enorme, começando por dizer que eles não são sombrios. Essa negação me parece um ataque frontal a qualquer possibilidade de amadurecimento. Velhice como doença Há uma mudança de paradigma da ideia de envelhecimento, que é tirá-lo da chave de processo natural e colocá-lo na de patologia. É um tema científico, mas me pergunto se ele já não está instalado na nossa forma de ver o envelhecimento, ou seja, a ideia de que envelhecimento não é natural, nem uma fase da vida, mas uma doença que você não conseguiu evitar. Nessa ideia, o envelhecimento é algo indesejável, contra o qual se combaterá até o fim. O argumento de que o envelhecimento é doença coloca em xeque a ideia de encontrar sentido no envelhecimento. Qual é o sentido da vida humana? No sentido mais imediato da expressão, o sentido da vida humana é a morte. É por isso que muito filósofo já escreveu sobre o assunto, como Jean-Paul Sartre, em O Ser e o Nada , e Martin Heidegger, em Ser e Tempo . Tem um texto do filósofo alemão Walter Benjamin chamado A morte do narrador. No mundo moderno e contemporâneo, o narrador é compreendido como aquela pessoa que vivia várias épocas e gerações. No sentido filosófico, o narrador da vida é aquele que está no lugar de quem sabe mais. Mas essa ideia de que pessoa que vive mais sabe mais está sob forte ataque. Os mais velhos estão alienados de um processo que está acontecendo no mundo, onde quem sabe o que está acontecendo são os mais jovens. Envelhecer bem custa caro A longevidade é construída numa série de exames, tratamentos, alimentação, disciplina e busca de sentido. Existe uma dimensão material no envelhecimento, que faz com que pessoas com melhor condição financeira vivam mais e envelheçam com mais qualidade. Quanto mais pobre é, pior envelhece. Algumas pessoas resolvem lidar com o envelhecimento investindo nelas mesmas. Elas não têm filhos, ou têm poucos filhos. Para as mulheres, essa opção ainda evita a gravidez e os problemas físicos decorrentes dela. Avós em extinção A figura clássica da avó vai desaparecer, porque não necessariamente mulheres mais velhas quererão desempenhar esse papel. Aos 60 ou 70 anos, elas vão estar por aí querendo ser felizes. Querem viajar, conhecer pessoas, quem sabe ter mais experiências sexuais, não tomar conta do neto porque a filha resolveu trabalhar. Querer que sua mãe não tenha vida para cuidar do seu filho é, por si só, uma forma de exploração do outro. As avós que farão isso são aquelas que terão menos vida para elas mesmas.

Compartilhar:


Para Inspirar

Evento Plenae: Mindfulness e o poder da possibilidade de retardar o envelhecimento

Ellen Langer conta porque mindfulness é um assunto cada vez mais respeitado e pesquisado na Academia

22 de Junho de 2018


A incerteza tem enorme valor. Ajuda a expandir o acervo intelectual de cada um. A presunção do conhecimento, ao contrário, diminuiu o interesse, a atenção e consequentemente o engajamento. Se levarmos em conta a quantidade de informações novas que o mundo globalizado possibilita, há muito o que ver e aprender. O problema é que as pessoas “estão frequentemente desatentas”, segundo a americana Ellen Langer, de 71 anos, professora de psicologia da Universidade Harvard. “O estado da desatenção pode ter um alto custo”, disse durante a palestra “Midfulness, o poder da possibilidade de retardar o envelhecimento”, em maio de 2018, quando foi lançado o Plenae em São Paulo. A desatenção faz com que decisões sejam tomadas com base em experiências passadas e sem levar em conta o contexto atual. “Você age como um autômato, um robô”, diz Ellen. Nem toda decisão é simples. Ter flexibilidade é mais importante do que seguir regras e rotinas, que podem não fazer mais sentido. A transformação do conhecimento é dinâmico. Para acompanhar as mudanças de contextos em situações que parecem similares às ocorridas no passado, as percepções precisam estar afiadas.
A chave não está em possuir certezas, mas em manter sempre a mente aberta. “O valor da dúvida é realmente enorme: quando estamos inseguros, prestamos mais atenção”, diz Ellen. “Os neurônios ficam estimulados. Aumenta a concentração. Muitas vezes, pode mostrar que não conhecíamos as coisas tão bem quanto achávamos.” Focar no presente ajuda na tomada de decisões mais específicas. “Afinal, não existe solução única para tudo”, lembra a psicóloga. Ela faz uma ressalva: “O fato de saber o que acontece no momento não significa engajamento”. Pelo contrário, ter muitas certezas é o primeiro passo para se errar. “Prestar atenção é tão fácil, mas passamos 70% do tempo desatentos, segundo pesquisas”, diz Ellen. A psicóloga acredita que debilitação física é subsequente mais da mentalidade do que de uma função natural do processo de envelhecimento. Por exemplo, aos 20 anos, quando alguém machuca o pulso e sente dor, acaba procurando um médico. A dor é indicativo de que algo está errado. Aos 75 anos, é comum alguém ter dor e achar natural. Como se a dor fizesse parte da idade. Inconscientemente, ao fazer isso a pessoa abre mão da saúde e se prepara para o declínio. Em um estudo, ela percebeu que homens calvos tinham uma incidência maior de câncer de próstata, mas não havia nenhuma conexão fisiológica entre ambos os fatos. No entanto, a perda de cabelo está associada com velhice, o que mudava a disposição das pessoas de cuidar da saúde. Lembrar que você também sentia dores e cometia falhas quando era mais novo pode ser o primeiro passo para não se definir como um idoso. Esse processo todo reduz os níveis de estresse, promove saúde, otimismo e vitalidade – fatores que garantem um envelhecimento melhor. “Possuir regras e rotinas é importante”, resume, “mas não é uma solução única. A estabilidade é uma ilusão, mas inúmeras portas se abrem quando se abraça a incerteza. Assista aqui à palestra completa.

Compartilhar:


Inscreva-se na nossa Newsletter!

Inscreva-se na nossa Newsletter!


Seu encontro marcado todo mês com muito bem-estar e qualidade de vida!

Grau Plenae

Para empresas
Utilizamos cookies com base em nossos interesses legítimos, para melhorar o desempenho do site, analisar como você interage com ele, personalizar o conteúdo que você recebe e medir a eficácia de nossos anúncios. Caso queira saber mais sobre os cookies que utilizamos, por favor acesse nossa Política de Privacidade.
Quero Saber Mais