Para Inspirar

Nos EUA, bilionários buscam fórmula da imortalidade

Resultados da guerra contra o envelhecimento têm sido até agora modestos

26 de Agosto de 2019


Pessoas poderosas que movem mundos e fundos para tentar driblar a própria mortalidade não são exatamente novidade —que o digam os leitores da “Epopeia de Gilgámesh”, conjunto de textos mesopotâmicos datados de 2000 a.C., que narram, entre outras coisas, a busca do rei Gilgámesh pelo segredo da vida eterna (spoiler: ele não conseguiu realizar a façanha). Gilgámesh, é óbvio, não entendia patavinas de biologia molecular, nem tinha os bilhões de dólares do Vale do Silício do século 21 à sua disposição. Com efeito, os equivalentes modernos dos monarcas da Mesopotâmia —figuras como Sergey Brin, um dos fundadores do Google; Peter Thiel, que ajudou a criar o PayPal; Jeff Bezos, da Amazon; e Larry Ellison, da Oracle— resolveram apostar, ao longo desta década, que a combinação de biotecnologia de ponta com capital de risco bilionário será capaz de operar maravilhas na guerra ao envelhecimento e à morte. Uma única empresa do ramo, a Calico (criada pelo Google em parceria com a companhia farmacêutica AbbVie em 2013), já recebeu aportes de quase US$ 2 bilhões. Também há iniciativas um pouco mais modestas, como a Human Longevity, que levantou cerca de US$ 300 milhões nos últimos anos. Embora disponham de volumosos investimentos, as pesquisas na área ainda estão longe de alcançar maturidade, em especial no que diz respeito a aplicações terapêuticas em seres humanos. Há hoje maior compreensão acerca dos mecanismos moleculares que conduzem ao envelhecimento de células, tecidos e organismos inteiros, todavia não se pode afirmar que alguma intervenção medicamentosa individual teria impacto considerável sobre a longevidade do Homo sapiens . Assim como ocorre em todos os demais ramos da pesquisa biomédica, resultados obtidos em laboratório com os chamados organismos-modelo —leveduras, vermes nematoides, camundongos— nem sempre encontram equivalentes em abordagens com pessoas. Portanto, por mais que Brin fale em “curar a morte” ou que Ellison diga que a aceitação da mortalidade “é um negócio incompreensível”, nada aponta para algum avanço mais concreto a curto prazo. Numa área de fronteira da biologia como essa, as definições tendem a ser provisórias. O envelhecimento, por enquanto, parece ser um processo essencialmente multiforme —e nisso reside parte do desafio que a pesquisa bancada pelos bilionários da Califórnia terá de enfrentar. Em vez de seguir uma série de passos mais ou menos programados, tais como os que guiam a divisão celular desde que o espermatozoide encontra o óvulo, o envelhecimento, via de regra, ocorre de modo relativamente bagunçado. Derivaria, por exemplo, dos danos aleatórios que o DNA e outros componentes moleculares das células sofrem com o tempo, graças a influências ambientais tão diversas quanto estresse, variações de temperatura, consumo de certos alimentos ou a simples respiração (já que derivados do oxigênio que inalamos também podem danificar a estrutura das moléculas do organismo). Essas modificações, como seria de esperar, tendem a afetar a saúde e a eficiência dos mais variados tipos de células, além de aumentar o risco de que elas adquiram características genéticas aberrantes e desencadeiem, por exemplo, a formação de tumores. Dessa maneira, os sistemas de controle de qualidade do próprio organismo fazem com que as células veteranas, marcadas pelo peso da tralha molecular que se acumulou nelas, parem de se dividir. Com isso, tecidos deixam de se regenerar e o envelhecimento inicia sua marcha inexorável. Convém ressaltar que, por sua própria natureza não programada, tais processos se dão em ritmos que variam tremendamente não só de indivíduo para indivíduo, mas também, em princípio, até de órgão para órgão. Alguém pode perfeitamente ter rins de idoso e coração de adolescente, por assim dizer, o que dificulta a busca de uma solução única para o organismo como um todo. Essa faceta aparentemente randômica e caótica da decrepitude não é, entretanto, a única a se apresentar diante dos microscópios dos biólogos. Alguns processos dão a impressão de integrar um programa biológico, como o chamado limite de Hayflick (proposto nos anos 1960 pelo anatomista americano Leonard Hayflick), que corresponde ao número finito de divisões, da ordem de algumas dezenas, pelo qual células normais são capazes de passar. Quando uma célula se divide, ela se reproduz, dando origem a duas células-filhas; essas, por sua vez, geram quatro células-netas, e assim por diante. Hayflick demonstrou, portanto, a existência de uma espécie de menopausa celular, após a qual as células atingem um estado de senescência (“velhice”) não reprodutiva. A quantidade de divisões que ainda restam a uma célula parece ser determinada pelo comprimento dos telômeros (em grego, algo como “parte final”), as pontas das estruturas enoveladas conhecidas como cromossomos, onde o DNA fica empacotado. O DNA dos telômeros não contém informação, mas serve como “zona-tampão” para proteger o resto do material genético quando ele é duplicado durante a divisão celular (por um defeito natural do processo, um trechinho da ponta sempre é perdido, o que corresponde ao encurtamento dos telômeros). Quando não há mais o que cortar nos telômeros, a divisão celular deixa de ser possível. Surgem as células senescentes, que tendem a se acumular no organismo com o transcorrer dos anos, estimulando, por exemplo, processos inflamatórios associados a doenças do envelhecimento. A maioria dos pesquisadores tende a evitar a retórica grandiloquente à la Gilgámesh. Em geral, costumam dizer que a principal meta é aumentar o “healthspan” (em inglês, algo como o tempo de vida saudável), e não o “lifespan” (tempo de vida propriamente dito). Além de produzir idosos com qualidade de vida superior à da maioria dos octagenários e nonagenários de hoje, essa estratégia teria, como consequência natural, um ligeiro aumento da expectativa de vida, simplesmente porque ninguém morre “de velhice”, a rigor, mas sempre de alguma complicação de saúde específica associada ao processo de envelhecimento. No mínimo, teríamos idosos com uma qualidade de vida bastante superior à registrada hoje. De qualquer modo, as metas mais ambiciosas do Vale do Silício —estender indefinidamente a longevidade humana— muito provavelmente vão exigir bem mais do que o uso de uns poucos medicamentos. Considerando a miríade de causas biológicas que conduzem ao envelhecimento, será necessário ao mesmo tempo corrigir danos no DNA, reciclar proteínas malformadas, eliminar células senescentes e substituir tecidos e órgãos que passaram do “prazo de validade”, com ajuda de células-tronco (capazes de dar origem a todos os tecidos do organismo). Ou seja, o resultado almejado depende de que muitas coisas deem certo ao mesmo tempo —e ainda é cedo para dizer se acertar todos esses ponteiros não acarretaria efeitos indesejáveis, difíceis de prever hoje. “Muito provavelmente será algo gradual, que vai acontecer ao longo das próximas décadas ou séculos”, diz o geneticista da USP. “Conforme for se consolidando a visão de que o envelhecimento é uma forma de doença, e a sociedade destinar recursos para enfrentar o problema, como já está acontecendo, não me parece impossível que ele seja evitado ou, no mínimo, reduzido a níveis muito baixos.” O clichê não poderia ser mais apropriado: quem viver verá. Fonte: Reinaldo José Lopes, para Folha de S.Paulo Síntese: Equipe Plenae Leia o artigo completo aqui .

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Para Inspirar

Quando a maternidade solo é uma escolha

Inspirados no episódio de Mariana Kupfer, investigamos a maternidade solo opcional no Brasil, seus números e os propósitos dessas mães

7 de Outubro de 2020


Quando se fala em maternidade solo, tristes imagens povoam o nosso imaginário. Isso porque, segundo levantamento do IBGE, mais de 80% das crianças brasileiras têm uma mulher como principal responsável - e 5,5 milhões delas não têm o nome do pai no registro de nascimento. Essa realidade tão difícil e recorrente acomete, sobretudo, as mulheres mais pobres, que não escolheram estarem sozinhas, mas sim, foram abandonadas pelo pai da criança.

Mas e quando a maternidade solo é uma opção pessoal? Como vimos no episódio da apresentadora Mariana Kupfer na segunda temporada do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir, a ciência pode ser a principal parceira da mulher nessas circunstâncias, e hoje há diferentes opções de caminhos que ela pode tomar para realizar o sonho da maternidade.

O instinto materno

Parte-se do princípio de que instinto pertence a ordem do biológico, portanto, é um impulso interior incontrolável e inconsciente, muito relacionado às necessidades da sua sobrevivência ou da sua espécie. Sendo assim, o instinto materno como verdade absoluta e irrefutável vem sendo contestado em algumas instâncias.

“A maternidade envolve uma série de estruturas como política, economia, cultura. A psicanálise não acredita no instinto materno, mas sim na pulsão, que atravessa o âmbito dos nossos mais íntimos desejos” explica a psicanalista e pesquisadora de comportamento, Luisa Lancellotti. “A gente vai falar que a mãe nasce junto com o bebê, pois sem ele, ela não poderia ser mãe - seja ele adotivo, biológico ou de consideração. Portanto, trata-se de uma construção” diz.

Esse nascimento da mãe se dá antes mesmo do nascimento desse filho. Pela nossa cultura, ela já começa a nascer a partir do resultado positivo do exame, na sexologia e até mesmo na escolha do nome ou no momento de decorar o quarto. “Se eu posso escolher ser mãe, algo me diz que isso passa pelo desejo, então não há um instinto - se não, todas as mulheres gostariam de ser e a gente vê na clínica que isso não é verdade” explica a psicanalista.

E por onde esse desejo interno em ser mãe que algumas mulheres nutrem passa internamente? “Essa questão é infinita, pois a pulsão não tem um objeto fixo, diferente de um instinto. Pode ser por cuidado, pode ser uma questão de reparação da própria infância, diz respeito somente a vida daquela pessoa, portanto, não existe uma resposta fixa. E não cabe a nós debater esse porquê, mas sim entender que ela tem esse direito de decidir.” comenta Luisa.

Sendo assim, o “ser mãe” vai ter um significado próprio, diferente para cada uma. Por isso mesmo, a psicanálise defende que não existe uma mãe ideal, mas sim uma mãe possível. “Esse conceito foi condenado por anos, mas na realidade ele traz liberdade, pois as mães sempre se sentiram muito culpadas por tudo. Além disso, a sociedade não pode dizer o que é bom e o que é ruim, até porque não conhecemos a vida dessa mãe e como ela exerce essa maternagem dela.”

Figura materna X Figura paterna

Também amplamente discutido pela psicanálise, as figuras maternas e paternas, diferentemente do que se pensa, não representam pessoas necessariamente, mas sim, funções sociais. A figura materna pode ser exercida pela mãe, por uma avó, por uma enfermeira - e até mesmo por alguém do sexo masculino.

Isso porque essa pessoa é quem investirá o que os estudos psicanalíticos entendem por libido, que é essa energia e cuidado que a espécie humana literalmente necessita para sobreviver nos primeiros anos.

O problema é que o bebê se torna tão dependente dessa conexão que, muitas vezes, se confunde com essa “mãe”. “É muito gostoso fusionar com a mãe, seria ótimo se pudéssemos viver com aquele cuidado incondicional (considerando a perspectiva do bebê) da primeira infância, mas isso é nocivo a longo prazo” explica.

E é aí que entra a figura paterna. “Ela funciona como uma intervenção, uma possibilidade de enxergar outras perspectivas, e pode ser representada por qualquer pessoa, não necessariamente um pai” explica Luisa. Na literatura, essa figura paterna pode ser um chefe ou até mesmo a lei, por exemplo, pois ambos representam essa ruptura e castração.

O importante é que essa criança tenha contato com vários tipos de cuidado, porque isso a fará mais criativa e espontânea. “Em algumas tribos africanas, durante muitos anos, a criança era criada pela tribo inteira. Isso fazia com que ela circulasse esses vários universos e cuidados e se adaptasse melhor” conclui a psicanalista.

Caminhos

Valendo-se do princípio de que a maternidade é um desejo e uma escolha individual de cada mulher, e de que ela é completamente apta a desempenhar essa função sozinha se esse for o seu desejo, quais são os caminhos que ela poderá tomar a partir dessa decisão?

A adoção é, evidentemente, um dos caminhos possíveis para essa mãe. Mas se o seu desejo for a gestação, a reprodução assistida, que muitas vezes é uma opção também de casais - neste caso, que enfrentam alguma dificuldade reprodutiva - pode ser um dos caminhos.

“O primeiro passo é o check-up completo, para analisar a saúde da paciente. O segundo, se for uma reprodução independente, é escolher o sêmem no banco, seja nacional ou internacional” explica o doutor Dani Ejzenberg, ginecologista e obstetra, especializado em reprodução assistida.

Uma vez escolhido o sêmem, ela poderá optar por dois caminhos: a inseminação intra uterina, que é um caminho mais simples e possui uma taxa de sucesso de 12 a 15% por tentativa, ou a fertilização in vitro, que possui uma taxa de sucesso maior, de 50 a 60% - a depender de sua idade ou da sua doadora.

A inseminação é quando o espermatozoide é colocado no corpo dessa mulher para que ele siga de forma natural ao seu óvulo. Já a fertilização in vitro é quando esse processo de fecundação acontece em laboratório e, posteriormente, esse óvulo é colocado dentro da mulher que irá gestá-lo.

“Os tratamentos de reprodução assistida têm um risco muito reduzidos, apesar de não inexistentes. As maiores complicações que elas podem enfrentar são provenientes de suas gestações avançadas, que já poderiam acontecer de qualquer maneira” explica Dani. Isso porque, segundo ele, a maioria das mulheres que procura esse tipo de método, já ultrapassou os 40 anos de idade.

Segundo o doutor, a procura pelos métodos têm aumentado cada vez mais. As mulheres solteiras ainda não são maioria, mas já representam uma parcela significativa delas. “Em geral, são pacientes já estabelecidas profissionalmente, com boa condição social, já passaram dos 35 anos, tiveram relacionamentos não frutíferos e agora se consideram maduras o suficiente para engravidar” explica.

E esse pai costuma fazer muita falta? “Não, pois em geral, as famílias apoiam e são parceiras, que acabam desenvolvendo esse papel. Mais importante do que um pai, é essas mulheres terem uma rede de apoio, pessoas que vão desenvolver papéis importantes na educação dessas crianças”. Se lembra da figura paterna que explicamos? Pois bem.

“A legislação brasileira é uma das mais liberais do mundo, e permite que a pessoa sozinha possa ter filho, tanto homem quanto mulher. Uma pessoa gestar pra outra no Brasil também é permitido, se for feita de forma voluntária e não cobrada, e pode-se adotar sozinho também” diz o doutor. Há diversos caminhos para se ter filhos, mas somente você poderá decidir isso.

Sendo assim, fazemos das palavras de Mariana Kupfer, as nossas. “Mãe não é um estado civil, é um estado de amor”. É uma escolha pessoal e um papel que pode sim ser desempenhado individualmente - quando ele se trata de uma opção. Tem a ver com o seus desejos e propósitos e, ainda assim, toda mãe é ótima dentro de suas capacidades, porque mais importante do que a perfeição, é o amor investido.

Confira os dados a seguir: 


    
- Esses dados abrangem mães solos por opção, por abandono e ainda as viúvas;

- A fertilização in vitro é, dentre as opções médicas, a mais segura em taxa de sucesso;

- O Brasil é um dos nomes mais importantes na prática da fertilização - mas por aqui, ainda é bem caro;

Fatores culturais e êxito na carreira fazem com que mulheres de todo o mundo adiem o momento da gestação.

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