Para Inspirar

Qual é o nome do seu mal-estar?

Em busca de compreender os sentimentos confusos que a pandemia nos trouxe, conversamos com a psicóloga Nara Helena Pereira

25 de Maio de 2021


Se no último ano você se sentiu inexplicavelmente esgotado, apático, sofrendo variações de humor e com dificuldade de concentração, fique tranquilo: você não está sozinho. É o mal-estar pandêmico, gerado por uma série de fatores.

Para ele, há diversas teorias e nomes. O mais recente - e que causou maior burburinho pela precisão em sua descrição - foi o “definhamento”, tradução encontrada para a palavra original em inglês " languishing ''.

O termo, cunhado pelo sociólogo Corey Keyes, ganhou notoriedade ao ser esmiuçado em seus sintomas pelo psicólogo Adam Grant, em artigo para o jornal The New York Times . Aqui no Brasil, o texto foi traduzido pelo jornal Folha de São Paulo na íntegra.

Esse definhamento pode ser definido como um sentimento  “de estagnação e vazio”, como se você estivesse “vendo sua vida através de uma janela embaçada”. Não se trata de uma depressão clínica, nem tampouco é algo próximo a um estado de alegria e bem-estar.

O languishing é essa ausência de alegrias e objetivos, que acaba deturpando também o nosso foco e nosso planejamento futuro. Ele é causado, sobretudo, pela falta de socialização, importantíssima para o ser humano, e falta da sensação de normalidade, uma das bases para que o ser humano se sinta seguro.


Falta de vitalidade

Aqui no Brasil, o termo ainda não foi altamente popularizado. Mas isso não quer dizer que os especialistas não estejam atentos a esse carrossel de emoções que grande parte da população vem sentindo. Nara Helena Lopes, pós-doutoranda no Instituto de Psicologia da USP, professora e psicóloga clínica, faz parte dessa gama de profissionais que estão atentos a essas movimentações.

Estudos realizados pela Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, fizeram uma comparação com outros dez grandes países e concluíram que o Brasil é o número 1 em índices de ansiedade e depressão na pandemia. Mas e quanto a esse “meio do caminho” entre estar bem e estar depressivo?

“O termo ‘definhamento' não é utilizado por aqui. Mas esse fenômeno sim, é algo que vem acontecendo e sendo analisado, e trata-se de algo bem complexo e inédito. Isso porque estamos vivendo um distanciamento físico, mas mediado por esse ambiente online”, explica. “Além disso, não conseguimos ter uma previsibilidade, um controle do futuro. Quando não temos isso, perdemos parte do sentido que nós damos pra vida. Sentido mesmo, como direção, para onde eu vou. Fica esse vazio”.

Está tudo interligado. Na cultura Ocidental, principalmente, os sonhos são imagens e desejos que fazemos sempre remetendo a um futuro, que agora nos foi tirado. Soma-se ao fato de que somos seres relacionais, dependemos dessa troca com o outro para o bom funcionamento da mente e até do corpo.

“Eu tenho caracterizado muito esse sentimento como uma desvitalização, inclusive uso esse nome como ‘diagnóstico’. Eu ouço muita gente dizendo que faz as coisas, mas perde a noção do tempo, da execução concreta das coisas, justamente por estarmos muito imersos nessa temporalidade online, onde não se tem matéria” conta Nara.

Essa desvitalização, é claro, afeta os indivíduos de maneiras diferentes, mas perpassa em todos de alguma maneira. No início da pandemia, um estudo africano se baseou nas epidemias de SARS da África para estudar os efeitos do distanciamento.

A conclusão foi a de que, pessoas que já possuem algum quadro psicológico ou uma tendência a serem mais deprimidas ou mais ansiosas, provavelmente verão esses sintomas se intensificarem.

“Mas agora, mesmo pessoas que não tinham nenhum histórico anterior, começaram a viver dentro dessa esfera do definhamento e da desvitalização”, diz a psicóloga. “É como se, de repente, todo mundo começasse a carregar algum tipo de sofrimento dentro de sua particularidade”.

Não se pode chamar de depressão porque a vida acaba continuando, principalmente porque a vida online passa essa impressão. “Mas não é um sentido concreto”, revela Nara. Sua principal linha de pesquisa trata justamente dessa subjetividade do ambiente online e como ela nos afeta.

“É um fenômeno completamente novo, onde a gente corre o risco de esquecer um pouco o que é a humanidade, o encontro empático, a tolerância com o diferente, o estar com o outro. Esses aspectos ficam também lesados”, diz a especialista.

Caminhos para o equilíbrio

Nara alerta, primeiramente, para o cuidado com a nossa imersão na internet. “A gente precisa começar agora a filtrar o que é e o quanto que a vida online está intensificando isso tudo. Porque ela é uma vida que não tem limite e mexe, sobretudo, com a percepção de temporalidade que mencionamos antes. Fica a sensação de que o tempo não passa, ou de que ele não rende. Praticamente não existe mais a vida lá fora, o olhar para o horizonte”, alerta.

Como sabemos, o uso da internet tem sido praticamente 24h para muitas pessoas. É por meio dela que trabalhamos, que nos comunicamos com o outro e até o nosso lazer pode partir dessa mesma fonte. Essas apatias, segundo Nara, vêm muito desse movimento da internet, de uma legitimação desse espaço que é bom e cria pontes, mas não traz a noção de realização que um trabalho artesanal poderia trazer, por exemplo, a sensação de felicidade de ver pronto, de ir construindo.

“Alguns estudos apontam que estamos evoluindo em 2 anos o que era previsto para 20, e não estamos olhando para isso. Não nos damos conta de que muitos dos nossos males podem ser sintomas de uma vida que não está acontecendo no concreto.”, pontua.

Buscar ajuda capacitada para lidar com as suas emoções, é claro, também é uma forma de encontrar o equilíbrio. Mas principalmente porque é por meio do processo terapêutico que aprendemos a nomear nossos sentimentos. “Se eu tenho dúvida de um termo, eu vou no dicionário e isso me ajuda a clarificar. O mesmo para os sentimentos: nós somos seres que dependem de significados. Quando temos um conceito, ele nos ajuda a refletir, procurar identificação”.

A solidão tem sido cada vez mais presente e difícil de conviver, mas ela é importante, pois é um momento profundo de autoconhecimento. “Ninguém escolhe ficar triste, mas é a nossa capacidade de reflexão que nos ajuda a viver, primeiro identificando o que é e depois o que eu faço, o que eu posso buscar para enfrentar”, reflete.

Recentemente, a OMS (Organização Mundial da Saúde) criou uma cartilha para informar sobre os cuidados com a saúde mental. Dentre suas dicas, destacamos a importância de se ter uma rotina, e como isso pode ajudar a nortear os seus dias e trazer uma sensação de controle. É importante que nela conste atividades offline que também te tragam o prazer perdido nesses tempos autômatos.

Para um futuro melhor no macro, dependemos, é claro, da vacina, a única saída efetiva para se conter o vírus. Mas, apesar de sermos seres adaptáveis e que isso funcione como um mecanismo de autopreservação, é importante não normalizar a desvitalização, adotá-la como nosso “novo eu”.

“É preciso promover o diálogo e a reflexão para que a gente não se adapte a não sermos mais humanos e tudo que isso implica, usando com consciência, a literacia do mundo online, sem perder a consciência do mundo que nos cerca”, conclui Nara. Você está atento aos seus próprios sintomas? Não se perca dentro de si mesmo.

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Para Inspirar

Avós voltam ao trabalho

Conheça a história de avós que voltaram a trabalhar e relatam como a atividade influenciou em suas vidas

21 de Dezembro de 2018


Na vitrine da loja no número 124, da Rua do Poço dos Negros, em Lisboa, chama a atenção senhoras ativas concentradas no tricô, no crochê e nos bordados. Entre linhas e agulhas, percebe-se que são pessoas de bem com a vida. Esse é o espírito do projeto A Avó Veio Trabalhar, que reúne mulheres acima dos 65 anos para produzir objetos de design. À frente da iniciativa estão Susana António, designer, e Ângelo Campota, psicólogo. Ela voltou de uma temporada em Milão resolvida a fazer algo pelo design português. Ele estava tocado com a questão da ocupação do tempo na terceira idade. Nesse contexto, em setembro de 2014, nasceu o projeto com o objetivo de reintegrar as senhoras do Cais do Sodré a uma vida em comunidade, fugindo dos convencionais programas sociais para idosos. O projeto começou com 12 integrantes. Susana e Ângelo propunham aos idosos sair da inércia com desafios criativos. Começaram criando luvas em cores que as senhoras não costumam usar – como tons fluorescentes – e sugerindo bordados que elas mal conheciam, como caveiras mexicanas. “Elas não estavam acostumadas e contestavam”, recorda-se Ângelo. Mais que uma segunda casa. Em 2014, eram 30 participantes. “Elas começaram a convidar vizinhos e amigos e o grupo foi crescendo”, conta Ângelo. Mas foi quando mudaram para a loja-ateliê com vitrine na Rua do Poço dos Negros que o projeto pôde dar passos mais largos. “Com a loja, começaram a chegar novas avós. Muitas vezes as famílias passam, conhecem o projeto e depois trazem a avó”, explica Ângelo, que hoje coordena o trabalho de 70 senhoras em três polos de Lisboa– a Praça São Paulo, onde tudo começou, na Rua Poço dos Negros e em Campo de Ourique. São pessoas, segundo ele, que querem se manter ativas no lugar de ficarem pensando na morte. “Muitas preferem estar aqui do que em casa”, diz Ângelo. Em plena tarde de uma quinta-feira de inverno em Lisboa, o movimento na loja-ateliê é intenso. Umas vão pegar linhas para novos projetos, outras chegam para aprender pontos de bordados. As agulhas não param, nem a conversa. Elas falam, riem, implicam umas com as outras. Sem juízo de valor, religiões ou ideologias em pauta, a alegria naquele espaço contagia e reverbera. Integradas ao hype de Lisboa. O impacto que o projeto tem na vida das participantes vai além de ocupar o tempo das idosas. A vitrine cheia de peças descoladas mostra que aquelas senhoras estão integradas ao processo de modernização do bairro, um dos que mais vem sofrendo com a mudança da população em um processo de gentrificação, que atinge a nova e hype Lisboa. Além disso, elas se envolvem em diversos projetos da cidade, como o festival de cinema DOC Lisboa, o fim-de-semana cultural Festival Silêncio e até mesmo a marcha LGBT da cidade. “Havia uma senhora de 80 anos que lutou pelos direitos dos homossexuais. Elas despertaram, cresceram como pessoas”, orgulha-se Ângelo, que diz que “é nos lugares mais estranhos que as avós querem estar”. A média de idade do grupo é de 75 anos. Há apenas uma avó com 57 anos, mas fisicamente debilitada. Já a mais velha do grupo tem mais de 90. Apesar do nome, não é um projeto só para mulheres. Há até um avô que faz tapetes. Mas há planos para criar projetos que envolvam marcenaria e outras atividades em que os homens se reconheçam mais. Leia o artigo completo aqui .

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