O Plenae Apresenta a história do médico Drauzio Varella, participante da nona temporada do Podcast Plenae!
19 de Setembro de 2022
Preencher seus dias com significado deveria ser regra para todos nós, mas infelizmente, o propósito ainda não encontrou seus destinatários e muitos morrem sem ter conhecido o seu. O médico nacionalmente conhecido, Drauzio Varella, encontrou o seu a tempo - para sua sorte e de todos atendidos pelo seu trabalho.
Não por acaso, ele encerra a nona temporada representando o pilar Propósito contando como seu caminho cruzou com os corredores da penitenciária. Tudo começou nos anos 80, quando o HIV ainda sofria o triste estigma de ser a “doença dos homossexuais”, o que hoje sabemos se tratar de uma compreensão equivocada e preconceituosa.
Durante a epidemia de Aids, Drauzio esteve em um congresso em Estocolmo onde viu pela primeira vez a frase de Dante Alighieri: “No inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempos de crise”. Essas palavras ficaram ecoando em sua mente e o fizeram refletir sobre seu futuro: seus netos se orgulhariam de seus passos?
Essa e outras angústias foram divididas com seu amigo, Fernando Vieira de Mello, que decidiu gravar tudo que o amigo dizia e publicar sem que ele soubesse. O que parecia seu fim, já que médicos respeitados na época não costumavam falar com o público e nem com veículos, foi na verdade seu começo.
A partir dessa entrevista publicada na Rádio Jovem Pan, ele foi convidado para o Fantástico - que seria sua casa no futuro, fato que ele ainda nem imaginava - e, por fim, para dar uma palestra sobre o tema HIV na Casa de Detenção de São Paulo, popularmente conhecida como Carandiru. “Aquele lugar era praticamente uma cidade, com vários pavilhões que chegaram a abrigar 9.000 homens presos”, recorda.
A palestra foi um sucesso, mas as próprias autoridades não queriam tomar medidas para conter o vírus nos passos seguintes. A visita à cadeia tomou tanto conta do seu ser que ele não queria mais parar, não pensava em outra coisa, e mesmo sua mulher relatou nunca ter o visto tão calado. Na época, ele tinha 47 anos e uma carreira consolidada como oncologista.
“Vem da infância a minha atração por filmes de cadeia. Eu adorava assistir aos filmes de presidiários que planejavam fugas cinematográficas, nas salas de cinema do Brás, o bairro onde eu cresci. A mesma tensão que me eletrizou no cinema tomou conta de mim quando eu entrei na Detenção. O bater das portas de ferro, os guardas com metralhadora na muralha, os presos de calça cáqui soltos nos pátios, os carcereiros, os doentes com aids em fase terminal não me saíam da cabeça nas semanas seguintes. O impacto do Carandiru em mim foi enorme”, conta.
No Carandiru, ele permaneceu até sua implosão, no triste episódio do massacre em 1992. Depois disso, foi para uma penitenciária feminina, onde contou que teve que reaprender tudo que sabia de cadeia, já que a realidade entre as mulheres era completamente diferente.
“Na cadeia, eu aprendi o que era realmente a condição feminina. Entendi o massacre que a sociedade brasileira faz com as mulheres, especialmente com as mais pobres, mas não só com elas. Entendi que algumas mulheres só têm liberdade sexual na cadeia. Olha a contradição. É que na prisão, ela pode fazer o que ela quiser. Pode namorar outra mulher, pode fazer o papel de marido e a outra faz de mulher, pode cortar o cabelo feito o homem, pode deixar os pelos do corpo crescerem. Não tem repressão”, diz.
Na penitenciária feminina ele permaneceu até 2020, quando começou a pandemia. Agora, em 2022, ele retornou aos presídios, mas dessa vez o masculino novamente: o Centro de Detenção Provisória do Belém, na zona leste de São Paulo. Ele hoje se dedica somente ao seu trabalho voluntário e como comunicador, na Rede Globo, sobre assuntos médicos. Largou de vez sua clínica particular.
“Hoje, eu agradeço a clarividência e a determinação que eu tive aos 47 anos de idade ao enveredar por esse caminho. Impossível imaginar quem eu seria agora se não fosse o contato com esse mundo que transformou a minha vida pessoal, a forma de entender a sociedade, o país e as paixões humanas”, revela.
Para ele, sua experiência com presos e presas o fez enxergar a vida de forma diferente, conviver com pessoas de realidades e crenças tão distintas da sua é na verdade algo que o enriquece diariamente como indivíduo, movimento que ele acredita que deveria ser comum para todos, entrar em contato com o diferente.
“A nossa tendência é sempre conviver com os iguais, com pessoas parecidas com a gente. Se possível da mesma faixa etária, classe social, situação financeira e candidato à presidência da república. Quando você está entre os seus semelhantes, tem segurança de que não vai acontecer nada desagradável. O que é ótimo, claro. O problema é que você começa a ver a realidade no mesmo ângulo o tempo inteiro. As pessoas vão te falar coisas com as quais você concorda e, inclusive, já sabia. Você perde espaço pro contraditório, pro desencontro, para outras formas de enxergar a realidade. As consequências são a perda da empatia, o desinteresse pelo outro, o conformismo e o medo de mudanças. A cadeia é uma experiência tão enriquecedora, que eu não consigo ficar sem ela”, pondera.
Aos 79 anos, ele nem pensa em parar, não consegue se projetar em uma situação onde ele esteja parado, sem produzir. O que a idade lhe trouxe, na verdade, é a vontade de escolher o essencial, de fazer somente o que lhe traz sentido e alegria. “A vida só vale a pena quando está preenchida de ideias e projetos. Idade não pode ser impeditivo para fazer ou deixar de fazer algo. Se você tem força física, disposição e habilidade, é só tocar pra frente”, concluiu.
E você, como enxerga seus dias e sua longevidade? Acredita que seus dias sejam preenchidos com sentido? Inspire-se nesse episódio que é a despedida da nona temporada do Podcast Plenae. Aperte play por aqui ou no seu streaming favorito. Até a próxima!
Vítima de uma Síndrome de Burnout, a jornalista divide como foi ver de perto seu corpo sucumbindo ao cansaço da mente, e até onde a carreira pode ser um vício
28 de Dezembro de 2020
O episódio de Corpo da terceira temporada do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir, é narrado por ela, que viu como a mente e o corpo podem ser um só de perto: a jornalista Izabella Camargo.
Depois de quase 3 décadas de carreira na comunicação, Izabella viu seu físico sendo acometido cada vez mais por diferentes doenças, até que descobriu o nome do que tinha: a Síndrome de Burnout.
“Eu aprendi que burnout é um nome novo para um problema antigo. Existe registro de 1869, com o nome de neurastenia. Naquela época, não existia nem luz elétrica, mas já havia pessoas estressadas e angustiadas pelo excesso de trabalho na modernidade”, conta ela.
Apesar de não ser nova, a Síndrome de Burnout vem sendo cada vez mais constante em um mercado de trabalho imediatista e hostil que não pode parar. Mas, apesar de acometer milhares de brasileiros, ela ainda é rodeada de preconceitos.
“A síndrome é cercada de julgamento e preconceito, porque por muitos séculos medidas higienistas tacharam como loucas pessoas com qualquer desequilíbrio mental, de lapso de memória a esquizofrenia”.
Depois de alguns anos trabalhando em jornais da madrugada, Izabella chegou ao seu limite e passou a ter apagões. Seu pior mal não foi só o excesso de trabalho, mas a privação de sono que a vaga lhe impunha.
“Eu colocava o trabalho na agenda antes de mim mesma. Só que pra acumular mais e mais tarefas, eu tinha que abrir mão de alguma coisa. E essa coisa era eu e as minhas horas de sono. Eu passei a dormir muito pouco. E a privação de sono fez a mente e, por consequência o meu corpo, saírem do eixo.
Antes de chegar ao diagnóstico final, ela visitou diferentes médicos. “Os alimentos levaram a culpa, e eu cortei lactose e café, como se a comida fosse a minha inimiga. As pessoas acham que, se alguém tem uma doença, é porque não buscou ajuda. Só que nem sempre procurar ajuda resolve a origem do problema”
“Quando eu dizia pros outros o que estava acontecendo, parecia reclamação. Mas na verdade eu estava pedindo socorro. Quem rege o corpo é a mente. O meu cérebro já tinha dado todos os sinais de que algo não ia bem”.
Após um afastamento de dois meses, Izabella retornou ao seu emprego com a ânsia traiçoeira que mora em todos os que sofrem de Síndrome de Burnout, e foi demitida. Essa ânsia opera como um vício, mas o objeto viciante nesse caso é a própria carreira. Mesmo após ver tão de perto, ela ainda tomou outros tombos pelo mesmo motivo, e hoje entende que seu gatilho é o excesso de trabalho.
Hoje, Izabella vive escrevendo para ajudar os outros a não chegarem ao limite como ela chegou. “O burnout é um desequilíbrio invisível, diferente de um pé quebrado. Além de cuidar da minha saúde, eu tinha que lidar com o julgamento alheio”.
Para ela, o suporte emocional e a compreensão de quem está perto é de extrema importância. “Na minha opinião, a melhor maneira de oferecer ajuda é dizendo: ‘Quando você estiver confortável, eu estou aqui para te ouvir’, ou: ‘Como eu posso te ajudar’”.
Conheça mais sobre esse forte e inspirador relato na terceira temporada do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir.
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